quarta-feira, 23 de julho de 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Pensar socialmente! É a base para o comportamento social!


Na edição atualizada e ampliada do livro “Dez Coisas que Toda Criança com Autismo Gostaria que Você Soubesse”, a autora aprofunda a a discussão do tema da interação social explicando como a pessoa precisa aprender a “pensar socialmente” antes de conseguir comportar-se de acordo com as regras sociais.
 
 
Vamos ser honestos. Crianças com autismo ou síndrome de Asperger são consideradas “esquisitas” pela sociedade. O sofrimento que isso causa, tanto para a criança como para os pais, faz com que estes sintam uma necessidade imensa de “consertar” essa faceta do filho. Se competência social fosse uma função fisiológica, poderíamos desenvolvê-la com medicamentos, nutrição, exercícios ou fisioterapia. Se as crianças com autismo fossem curiosas, extrovertidas e tivessem motivação para aprender, poderíamos incluir inteligência social no currículo escolar.
Em geral, nossos filhos não são assim, e consciência social não é um conjunto de habilidades concretas que podem ser enumeradas. Regras básicas de boas maneiras (por favor e obrigado; use lenço de papel, e não a manga da blusa; espere a sua vez) podem e devem ser ensinadas, qualquer que seja o nível de função da criança, mas aprender a ficar à vontade entre outras pessoas no corre-corre e com as nuanças do dia a dia é infinitamente mais complexo. As habilidades sociais são o produto final de um organismo intrincado de elementos de desenvolvimento que denominamos “pensamento social”.
Assim como todos nós temos de aprender a andar antes de correr, temos de ensinar nossos filhos a “pensar socialmente” para que eles possam comportar-se de acordo com as regras sociais, com base em compreensão e intenção positiva, e não apenas por repetição mecânica ou medo das consequências. O pensamento social desafia o seu filho a incorporar contexto e perspectiva às suas ações – analisar os aspectos físicos, sociais e temporais do seu ambiente, levar em consideração os pensamentos e pontos de vista alheios; usar a imaginação compartilhada para brincar com um amigo; e compreender que os outros têm pensamentos e reações favoráveis ou nem tão favoráveis a ele, baseados no que ele diz e faz. O pensamento social é a fonte da qual se originam os nossos comportamentos sociais, e essa inteligência socioemocional pode desempenhar um papel mais importante no sucesso do seu filho no longo prazo do que a inteligência cognitiva.
O primeiro passo para ensinar uma criança com autismo a pensar socialmente consiste em deixar de lado qualquer pressuposição de que ela será capaz de adquirir sensibilidade social simplesmente ao observar pessoas que têm habilidades sociais, ou de que, de alguma maneira, um dia ela vai superar a sua inabilidade social. Até agora, o nosso sistema educacional tem baseado seus padrões curriculares na pressuposição incorreta de que todas as crianças nascem com o “cérebro social” intacto, ou seja, as áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de informações sociais, e também num suposto desenvolvimento progressivo das habilidades sociais. Não faz sentido, e é totalmente injusto para com a criança, reagir às suas gafes sociais com base em tais pressuposições e, depois, culpar seu autismo quando nossas tentativas de ensiná-la não surtirem efeito. O que nossos filhos precisam é que mudemos nossa postura e comecemos a construir a percepção social deles em suas raízes.
Quando dizemos que queremos que nosso filho aprenda habilidades sociais, na verdade estamos almejando algo mais grandioso. Queremos que ele seja capaz de se ajustar ao mundo que o cerca, que seja independente na escola, no bairro, no trabalho e em seus relacionamentos pessoais. Mais do que seguir um livro de regras, ser social é um estado de ser confiante que se desenvolve quando as habilidades de pensamento social são cuidadosamente cultivadas, desde que a criança é pequenininha:
  • Tomada de perspectiva: ser capaz de enxergar e vivenciar o mundo com base em outros pontos de vista, e não no próprio ponto de vista, e de encarar essas diferentes perspectivas como oportunidades para aprender e crescer.
  • Flexibilidade: ser capaz de lidar com mudanças imprevistas na rotina e nas expectativas, conseguir reconhecer que os erros não são um resultado final, mas sim parte do aprendizado e do crescimento e que as decepções são uma questão de grau.
  • Curiosidade: despertar motivação para pensar no “porquê” das coisas – por que alguma coisa existe, por que sua existência é importante, por que outros se sentem da maneira como se sentem e como isso nos afeta e nos interessa.
  • Autoestima: acreditar nas próprias habilidades para se arriscar a tentar novas coisas, ter respeito e amor-próprio para conseguir compreender que os atos e comentários cruéis e irrefletidos por parte de outras pessoas dizem mais sobre elas mesmas do que sobre você.
  • Visão abrangente: entender que pensamento social e consciência social são parte de tudo o que fazemos, quer estejamos ou não interagindo com outras pessoas. Nós lemos histórias e tentamos imaginar a motivação das personagens e prever o que elas farão em seguida. Repassamos mentalmente algumas situações, imaginando se agimos ou não de forma apropriada em determinada ocasião. O seu filho pode lhe dizer: “Eu não ligo para esse negócio de socializar, sou feliz sozinho”. Talvez ele esteja sendo sincero naquele momento, e muita gente realmente prefere a solidão à socialização. Mas também é verdade que algumas crianças adotam uma atitude de displicência para não sofrer, pois elas realmente se importam, mas não têm o conhecimento, as habilidades e o apoio necessários para superar suas barreiras sociais e, dessa maneira, conseguir alcançar suas metas e realizar seus sonhos.
  • Comunicação: compreender que nós nos comunicamos mesmo quando não estamos falando. Michelle Garcia Winner (2008), que cunhou o termo “pensamento social” e é considerada uma das principais vozes nessa área, descreve quatro etapas da comunicação que se desenrolam numa sequência linear, em milissegundos, em geral inconscientemente:
1.     Nós pensamos a respeito dos pensamentos e sentimentos das outras pessoas, bem como dos nossos próprios.
2.     Estabelecemos uma presença física para que as outras pessoas compreendam a nossa intenção de nos comunicar.
3.     Monitoramos com o olhar como as pessoas estão se sentindo, agindo e reagindo ao que está acontecendo entre nós.
4.     Usamos a linguagem para nos relacionar com os outros.
Você reparou que a linguagem só entra na equação da comunicação como uma última etapa? No entanto, é essa etapa que nós, pais e professores, costumamos enfatizar. Se você ensinar apenas a quarta etapa, sem as outras três, deixará seu filho ou aluno mal-equipado, vulnerável e correndo um grande risco de ser menos eficaz e menos bem-sucedido em sua comunicação social.
Tratar a criança como se ela fosse igual aos seus colegas da mesma idade e com desenvolvimento típico, sem um ensino direto e concreto dos conceitos sociais, não vai produzir habilidades de pensamento social. Sem esse ensinamento direto, seu filho chegará à idade adulta com os mesmos problemas de comunicação social. Ensinar seu filho a pensar socialmente e ser sociável consiste em um mosaico de milhares e milhares de pequeninas oportunidades de aprendizado e embates que, devidamente canalizados, se fundirão numa base de autoconfiança. É preciso que você, na qualidade de pai ou mãe, professor ou guia, seja socialmente consciente 110% do tempo, que decomponha a rede de complexidades sociais e lhe ensine as nuanças sociais que ele tem tanta dificuldade de perceber.
“Com um passo de cada vez, chega-se ao topo da montanha”, diz o velho adágio. Um dos livros infantis favoritos do meu filho Connor contava a história de Sir Edmund Hillary e seu guia xerpa, Tenzing Norgay, os primeiros alpinistas a chegarem ao topo do monte Everest. Nós conversamos sobre a controvérsia levantada ao longo dos anos de que um deles teve de colocar o pé no topo da montanha primeiro. Em meio à especulação de que Tenzing chegou ao topo um ou dois passos à frente de Sir Edmund Hillary, que era mais famoso, Jamling, filho de Tenzing, falou à revista Forbes em 2001: “Eu perguntei isso a ele, que disse: ‘Isso não é importante, Jamling. Nós escalamos a montanha como uma equipe’.” Assim como Hillary, seu filho está fazendo sua primeira escalada. Seja seu xerpa, ajude-o a perceber que a vista ao longo do caminho pode ser espetacular.

Veja a seguir um trecho condensado do capítulo 8 do livro “Dez Coisas que Toda Criança com Autismo Gostaria que Você Soubesse – Edição atualizada e ampliada”, de Ellen Notbohm, com a tradução de Mirtes Pinheiro.


 

sábado, 7 de junho de 2014


Josef Schovanec: “As pessoas com autismo podem ser uma mais-valia para a sociedade”


É o primeiro autista francês a publicar um livro. Nele conta a sua experiência de vida e defende que todos os autistas devem ir à escola, só assim é que podem aprender as regras sociais e a integrar-se na sociedade.



Josef Schovanec, 32 anos, diz “estar a leste”. Este francês com síndrome de Asperger, uma forma de autismo, escreveu o livro Je suis à L’Est!. O título é um trocadilho entre estar alheado, uma característica associada aos autistas, e o facto de ter escrito parte em Samarcanda, no Uzbequistão. A Oficina do Livro edita-o agora com o título Sou Autista — O Extraordinário Testemunho de Um Génio à Parte. O humor do título original não só percorre o livro como polvilhou esta entrevista dada em Lisboa.
Na obra, Josef Schovanec conta as dificuldades que teve na escola e que continua a ter no dia-a-dia, numa sociedade que ainda não está preparada para integrar os autistas. Ele estuda religiões e dá conferências sobre o autismo.Com um desenvolvimento anormal do sistema nervoso central, estas pessoas têm dificuldades de interacção social, de desenvolvimento da linguagem, comportamentos repetitivos e apegam-se às rotinas. Mas, ao defender que os autistas são importantes para a sociedade, o francês transformou a conversa com o PÚBLICO num elogio à diferença.
Nasceu em França. Pode falar um pouco das suas origens?
Nasci em França, mas sou um viajante. Costumo viajar até ao Médio Oriente, pois fiz estudos religiosos sobre o islão. Para falar sobre o autismo, viajo bastante em França, onde há um grande atraso na integração dos autistas.
Historicamente, as pessoas com autismo eram fechadas em instituições de saúde mental. Defendo uma revolução cultural, as pessoas com autismo ou com outras incapacidades devem ter uma vida autónoma, um trabalho, a sua própria casa. É por isso que nos últimos dez anos tenho saltado de lugar em lugar para falar sobre autismo. Cerca de 1% da população tem uma forma de autismo, é muita gente.
O que se faz com estas pessoas? Como é que as tornamos produtivas? Como é que lhes damos um papel na economia?
Há vários graus de autismo. A sociedade tem de ter a mesma fórmula para toda a gente?
Durante décadas, mesmo os grandes médicos e especialistas acreditavam que as pessoas com autismo tinham algum tipo de limitações mentais. Pode ser verdade nalgumas circunstâncias. Mas a razão principal para isso é que as crianças com autismo não vão à escola. Imagine uma criança que não vai à escola. Como é que pode aprender as coisas? Como é que pode conhecer a cultura onde está inserida? Acredito que quase 100% das crianças com autismo podem ir à escola. Nos Estados Unidos, 80% das crianças com autismo frequentam as escolas normais. Na Dinamarca são quase 100% das crianças com autismo. Claro que pode haver alguns desafios, tem de se criar um ambiente escolar para estas crianças.
Que tipo de ambiente é esse?
Numa sala com alunos com autismo, um barulho como este [Josef Schovanec bate as mãos com força] pode matar a capacidade de pensar das crianças. Elas são interrompidas por este som estridente e deixam de saber o que fazer. Tem de se criar um ambiente sossegado. É preciso também um ambiente sem demasiada luz. Muitas crianças ou pessoas com autismo são sensíveis à luz. Se há muita luz não conseguem concentrar-se naquilo que estão a fazer.
As crianças com autismo necessitam também de aprender todas as regras sociais, o que se chama “currículo oculto”. Por por exemplo, como se diz “olá”. Pode parecer muito fácil para uma pessoa sem autismo, mas para quem tem autismo é um grande desafio.
Porquê?
Há partes do cérebro humano que estão especialmente feitas para as relações com as outras pessoas. Mas as pessoas com autismo podem ter algumas dificuldades nisto, têm de aprender exactamente o que devem fazer. As regras têm de ser claras e leva tempo até a criança aprender como se deve comportar.
Se uma criança aprende a dizer “bom dia senhor” como se fosse um “olá”, chega à escola e vê um colega de sete anos e diz “bom dia senhor”. Mas não se diz “bom dia senhor” a uma criança. Estes são desafios que uma criança com autismo enfrenta e o professor tem de estar informado sobre o autismo, senão nada funcionará.
Quando alguém vai a uma loja no Reino Unido ou nos Estados Unidos e diz “olá, tenho síndrome de Asperger”, toda a gente sabe o que isso é e tem uma boa impressão. Ser um Aspie [diminutivo para alguém com síndrome de Asperger] é algo quase positivo. Uma pessoa com autismo não é menos dos que os outros, somos apenas diferentes. As pessoas com autismo têm capacidades, têm algo a dar. Não são só pessoas caras para os Estados e um fardo para a sociedade. Os autistas podem também ser uma mais-valia, a questão é como é que se faz isso. A empresa alemã de software SAP decidiu no ano passado contratar centenas, ou talvez milhares, de trabalhadores com autismo por serem mais produtivos.

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/entrevista-a-josef-schovanec-os-autistas-podem-ser-uma-maisvalia-para-a-sociedade-1639021

domingo, 18 de maio de 2014

Autismo: Conhecer para conviver!

O autismo é uma disfunção global de desenvolvimento, que afeta a capacidade de comunicação de um indivíduo. Por envolver diferentes graus de comprometimento, e indicando diferentes caminhos ( embora não se saiba exatamente o que faz uma pessoa ser autista ou não), é muitas vezes chamado de desordem do Espectro autista, ou seja: é um conjunto de anormalidades de interação social. As três principais formas são: autismo, síndrome de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento não especificado.

 

Autismo descrito numa linda e emocionante melodia regado com experiências vivas de famílias que aprenderam a lidar com essa experiência de vida!

 
A cantora Fantine Tho lançou dia 07/07/2011, no site da MTV Brasil, um videoclipe da música "Até o Fim", dirigido por Marco Rodrigues, com um tema incomum: o autismo.